Estar Enamorada

Estar enamorada, meu amor, é encontrar o nome certo da vida.
É encontrar por fim a palavra para fazer frente a morte, é recuperar a chave oculta  que abre o cárcere em que a alma está cativa e levantar-se da terra com uma força que chama de cima.
É contemplar do cume a razão das feridas e notar nuns olhos um verdadeiro olhar que nos olha. É escutar numa boca a própria voz profundamente repetida.
É surpreender numas mãos o calor da perfeita companhia e suspeitar, definitivamente, que a solidão da nossa sombra está vencida.

Estar enamorada, meu amor, é escutar no deserto a cristalina voz de um rio que nos chama.
É governar a luz do fogo e ao mesmo tempo ser escrava da chama. É entender o diálogo pensativo do coração e da distância.
É compreender perfeitamente que não há fronteiras entre o sonho e a vigília.

Estar enamorada, meu amor, é sofrer espaço e tempo com doçura e não saber se são nossas ou não as longínquas amarguras. É partilhar a luz do mundo e ao mesmo tempo partilhar a sua noite escura.
É espantar-se e alegrar-se por a lua ser ainda lua e comprovar no corpo e na alma que a tarefa de ser Homem é menos dura. 


Estar enamorada é começar a dizer SEMPRE e, daí em diante, não voltar a dizer NUNCA.

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